segunda-feira, 12 de março de 2012

O Pastor e o Lobo

Pelas florestas além dos campos de Kilconnell, o vento sussurrava entre as árvores sua lúgubre canção de inverno. Enquanto isso os lobos se reuniam e entoavam uma ode à Lua, proclamando o fim de mais uma noite na Irlanda.

Por toda a vila de Lionspaw as chaminés começaram a cuspir a fumaça do desjejum sendo preparado. Os camponeses acordavam para um novo dia de trabalho nos campos, começava uma nova segunda-feira. O céu nublado fazia crer que a primavera não chegaria e o sol ainda preguiçoso custava a atravessar as nuvens. Ainda assim Trevor se levantou.

Trevor O'Connell era um jovem de feições serenas e altivos olhos verdes. Cristão que era, como de costume, ao se levantar fez uma prece. Se arrumou mas não penteou seus lisos cabelos negros, cobrindo-os com a velha boina de seu pai.

Na cozinha, uma cena comum a seus dias, sua mãe terminando de por a mesa do café. Anne O'Connell era uma mulher simples, já nos seus quarenta anos, mostrava nos longos cabelos negros os brancos fios da idade. Seus olhos azuis e serenos notaram logo a presença do filho.

__Bom dia filho, dormiu bem?

__Sim mãe. - O jovem olhou para a pequena fartura por sobre a mesa. - Ora mas a senhora não precisava preparar um desjejum desses.

__Ai ai Trevor, sempre dizendo a mesma coisa. Precisava sim senhor. Graças a Deus temos o que comer, e precisamos nos alimentar bem.

Os O'Connell não eram uma família rica, na verdade estavam passando por sérios problemas financeiros, mas a Sra. O'Connell fazia o máximo para que seu filho se alimentasse bem, afinal de contas Trevor [o jovem de quatorze anos] precisava de força para a lida no campo.

__O que está pensando em fazer hoje, filho? - Perguntou sua mãe, enquanto servia-lhe pão e leite.

__Não sei. Tem feito muito frio esses dias, nem parece que estamos perto da primavera. Deste jeito continuo sem poder levar as ovelhas para pastarem.

__Fique em casa então filho, se não pode fazer nada não adianta ir para o frio.

__Não mãe, tenho que dar uma volta pelo campo, ver como está o clima.

A verdade era que Trevor estava bastante preocupado. Sem deixar que sua mãe notasse, agiu de maneira reservada como sempre, terminando o desjejum e saindo de sua choupana, com as bênçãos de sua mãe.

Caminhando enquanto observava o céu, Trevor foi até uma árvore solitária sobre uma colina. Lá era seu lugar favorito, e o pai sempre o levava ali para conversarem, e observarem a floresta além do riacho.

 Artur O'Connell fora um bom pai. Ensinou tudo o que sabia para Trevor, guiando-o desde de sua tenra infância. Mas aconteceu que quando o jovem O'Connell completava seus doze anos, o pai morrera acometido de uma doença. Seguido disso vieram mais agravantes, algumas ovelhas adoecidas, o dinheiro cada vez mais escasso e a situação piorando. Até que sem outra alternativa, os empregados se foram, deixando os cuidados das terras para Trevor e sua mãe.

No ano seguinte os impostos pesaram muito, e as ovelhas continuavam morrendo aos poucos. A única solução que Trevor encontrou fora vender parte das terras para o Clã O'Kelly. Depois venderam os cães, um bando todo de cães pastores de linhagem antiga e nobre.

O único cão pastor que ficara, foi o velho Rufus, e o pobre coitado era imprestável para o trabalho.

Todas essas lembranças passavam pela mente do jovem enquanto, sentado ao pé da árvore, ele observava a floresta. Voltou seus olhos para os céus cinzentos e lembrou-se de algumas palavras de seu pai.

"O Criador, meu filho, sempre prove o sustento para nós, de um jeito ou de outro. As preocupações apenas nos abatem, devemos sempre seguir em frente, confiantes que Ele está conosco."



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